Há alguns anos atrás, em visita ao amigo orquidófilo Luiz Francisco Bordignon, proprietário do Orquidário Americana, ele gentilmente me presenteou com um seedling da orquídea Schomburgkia crispa alba x self, cruzamento feito por ele.
Antes de contar a história por detrás dessa planta porém, vamos apresentar as características da espécie e algumas informações sobre seu cultivo, porque esse é o objetivo do “TUDO SOBRE ORQUÍDEAS“.
Orquídea Schomburgkia crispa alba, origem do nome.
Schomburgkia é um gênero botânico pertencente à família Orchidaceae, proposto pelo botânico inglês John Lindley, em 1838 . O nome deste gênero é uma homenagem ao renomado botânico alemão Moritz Richard Schomburgk (1811-1891).
O nome desta espécie deriva do latim: crispa, que significa “crespo”, portanto, em uma óbvia referência às bordas curvilíneas de suas flores.
Esta planta vegeta de forma epífita, fixada na parte alta e iluminada de grandes árvores, localizadas nas margens de rios em altitudes entre o nível do mar e 800 metros.
Sinonímia: Bletia crispina; Bletia marginata; Cattleya crispa; Cattleya marginata; Laelia marginata; Schomburgkia marginata e Schomburgkia marginata var. immarginata.
Aqui existe mais uma polêmica. Alguns estudiosos afirmam que Schomburgkia crispa e Schomburgkia gloriosa, também conhecida como Schomburgkia fimbriata, são a mesma planta. Por outro lado, outros obviamente discordam.
Condições de cultivo
“É uma planta de grande porte e que apresenta forma de crescimento simpodial. Rizoma racemoso e robusto, com raízes grossas e cobertas por tecido velame. Possui grandes e espaçados pseudobulbos fusiformes e alongados, que inicialmente são lisos e que com o tempo ficam sulcados. Cada bulbo suporta entre 2 e 3 folhas grandes, apicais, coriáceas, e lanceoladas.
A inflorescência é espetacular. Um SHOW. Longas, robustas e racemosas hastes florais que podem chegar a 1,5 metros de comprimento, suportando de 8 a 15 flores de aproximadamente 6cm de diâmetro.
É uma orquídea resistente que cresce facilmente em condições quentes ou intermediárias. Dê-lhe muita umidade, luz forte e bastante água durante o período de crescimento. Precisa de um descanso mais seco.
Quanto a origem, ela ocorre no Brasil (Estados de Alagoas, Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo), Venezuela, Suriname e Guiana. Ocorre desde o nível do mar até grandes altitudes”.
Seguem algumas dicas para cultivo:
- “A melhor forma de cultivar esta planta é fixada em árvores, ou então em robustos pedaços de cascas ou troncos, e com muitas raízes expostas.
- Se sua opção for cultivar esta planta em vaso ou caixeta, então utilize um substrato bem drenado e de secagem rápida.
- Esta planta de gosta de muita luz. Sugiro cultivo com sombreamento entre 30 e 40%, mesmo que as folhas fiquem um pouco amareladas. Esta é a única forma de estimular as lindas florações desta orquídea.
- Cuidado com o frio. A Schomburgkia crispa suporta temperaturas entre 10 e 40 graus, então, é bom protegê-la do frio nos dias mais rigorosos do inverno.
- Precisam de muita umidade, boa drenagem da água, e boa ventilação”. (Fonte de pesquisa: https://orquideasjph.wordpress.com/2017/02/05/schomburgkia-crispa/).
Agora, voltando a Schomburgkia crispa alba x self que ganhei do Bordignon, na época eu não conhecia a espécie. Então, perguntei a ele a respeito e ele me deu algumas informações. E, concluindo a conversa, me disse: “você vai gostar. Cuida bem dela”.
Assim sendo, com base nas informações sobre as características da planta, procurei dar a essa orquídea o que ela gosta. Em primeiro lugar ela foi plantada em caixeta de madeira, com substrato bem drenado, composto de brita e cascas de macadâmia. Além disso, dentro do orquidário ela foi colocada em ambiente com boa luminosidade, alta umidade relativa do ar e bem ventilado.
A planta cresceu e desenvolveu muito bem. E dois anos depois ela me presenteou com sua primeira floração. Fiquei encantado com aquela haste longa e cheia de flores de 6 a 7 cm. Então postei fotos no facebook e agradeci o meu amigo, pois ele tinha razão, gostei muito dela.
A descoberta casual da história de uma Schomburgkia crispa alba.
Alguns dias atrás, olhando as plantas no Orquidário Odara Orquídeas, percebi que a planta virou uma touceira, com pseudobulbos enormes e muitas raízes livres pelo ar. E pensei comigo mesmo, “deixei passar tempo demais, preciso dividir e replantar ela assim que começar a enraizar novamente”.
Hoje, casualmente, pesquisando na internet, me deparei com um artigo do Carlos Keller contando a história da descoberta de uma orquídea Schomburgkia crispa alba, o qual transcrevo abaixo:
“Essa linda espécie foi descrita por Lindleyi em 1838 em homenagem a Richard Schomburgkia, um botânico alemão que explorou a Guiana Inglesa por volta de 1800. Ela habita todo o norte da América do Sul e tanto cresce em árvores como em frestas nas rochas.
É uma planta rústica e robusta que necessita de muita luz para florescer bem.
Existe alguma confusão com respeito a sua classificação, pois para alguns a Schomburgkia crispa é uma espécie com flores roxas e labelo violáceo e não esta aqui, que na forma tipo possui flores castanhas com labelo lilás claro.
Esta também é tratada por alguns especialistas como Schomburgkia fimbriata. Seguindo, no entanto, as revistas e livros mais acessíveis, eu a mantive com o nome Schomburgkia crispa.
Características da orquídea Schomburgkia crispa alba
O exemplar da foto é albo ou albino e essa forma mutante na minha opinião é muito mais bonita do que a forma tipo. Ela está sendo cultivada em um cachepot de madeira com sphagnum e brita nº 1 como substrato.
A planta fica pendurada bem no alto do orquidário para que possa receber bastante luz. Quando a longa haste floral começa a crescer, sou obrigado a baixar o cachepot para que os botões não se queimem ao tocarem no teto quente.
A planta em si é muito bonita, pois a base dos bulbos é muito fina, o que é de admirar já que a haste do cacho floral pode chegar a 1 metro e meio de comprimento e balança à menor brisa.
A força da base que sustenta tudo isso deve ser enorme. Cada bulbo tem duas folhas do tamanho de uma folha de Cattleya labiata.
A inflorescência regula em tamanho com a de um Agapanthus africano e é interessante notar que as brácteas das flores ficam secas lá dentro dando uma visão mais compacta do cacho.
Cada flor tem o tamanho de uma Laelia flava. Já tive a oportunidade de ver uma touceira da forma tipo com mais de 10 cachos florais e digo que essa é uma visão inesquecível.
As hastes que sustentam as inflorescências provavelmente são assim longas para poderem atravessar a copa das árvores e expor as flores aos polinizadores lá em cima, já que essa espécie vegeta nas forquilhas mais grossas, à meia altura.
A história da descoberta
A planta da foto foi descoberta e coletada no perímetro urbano da cidade goiana de Catalão por três amigos orquidófilos, um morador de Catalão, outro morador de Goianésia, uma cidade vizinha a Catalão e o terceiro, morador de Santa Bárbara do Oeste, SP.
Acostumados a fazer coletas de orquídeas, eles ficaram sabendo que em uma área que estava sendo terraplanada para a construção de um loteamento de casas populares, havia uma grande árvore cheia de “parasitas” e que provavelmente essa árvore estava na mira dos tratores que fariam a derrubada.
Ao lá chegarem, eles identificaram as parasitas como sendo na verdade uma imensa touceira, ou um aglomerado de touceiras, de Orquídea Schomburgkia crispa.
O morador de Catalão é bombeiro e levou consigo o equipamento de rappel, o que o permitiu subir na árvore com facilidade.
Ao começar a derrubar aquela imensa quantidade de bulbos, ele percebeu que parte da touceira exibia flores albas. Essa parte foi retirada com cuidado e separada da planta tipo, o que resultou em aproximadamente 300 bulbos de Schomburgkia crispa alba.
A planta foi dividida igualmente em 3 partes, uma para cada coletor e essas partes foram posteriormente re-divididas em cortes com aproximadamente 3 bulbos cada e vendidos no mercado orquidófilo.
A divisão que está na foto veio da parte que ficou com o coletor de Santa Bárbara do Oeste.
Ainda hoje existem orquidários que possuem cortes dessa planta para venda. Já foram feitas duas sementeiras de self desse clone e já existem seedlings à venda.
A Schomburgkia é uma orquídea de imensa beleza decorativa, que tanto fica bem quando cultivada em vasos em orquidários, quanto em árvores no jardim”. (Carlos Keller – Rio de Janeiro).
A confirmação da história da Orquídea Schomburgkia crispa alba
No instante em que acabei de ler o artigo do Carlos Keller associei a minha planta à história narrada. E, como fiquei curioso, liguei para o Luiz Francisco Bordignon. Assim, perguntei a ele sobre a origem da minha planta e expliquei o motivo da pergunta.
Como sempre foi um papo muito agradável e, acima de tudo, é um prazer conversar e aprender com ele.
Então, ele me contou que há uns anos atrás, representando o Círculo Americanense De Orquidófilos, ele foi em uma Exposição de Orquídeas em Catalão GO. E, nessa ocasião, ele foi convidado a visitar um orquidário, onde conheceu as pessoas citadas no artigo acima.
Como resultado, acabaram por lhe mostrar a planta coletada e contaram a história sobre a descoberta.
Primeiramente, lhe disseram que, na área onde a planta foi encontrada, a mata iria ser toda derrubada para construção de um empreendimento. Em segundo lugar, que após a retirada da touceira no alto da árvore, os 3 amigos separaram e dividiram a planta com flores albas entre eles.
No entanto, a notícia do achado se espalhou. Consequentemente, outras pessoas foram ao local e arrancaram todos os seedlings pequenos que por lá existiam. E, em seguida, começaram a vender como Schomburgkia crispa alba. Só que deu tudo flor tipo. Em conclusão, “deu ruim”.
Mas, o mais importante em tudo isso é que a narrativa do Bordignon confirma todas as informações do artigo.
Além disso, continuou dizendo que, na ocasião da visita, ele conseguiu uma divisão da Schomburgkia crispa alba resgatada da árvore. Depois disso, ele fez um cruzamento self dessa planta, ou seja, polinizou a orquídea com o seu próprio pólen. E, portanto, a planta que me deu de presente era desse cruzamento.
Cultivar orquídeas e semear amizades é bom demais!
Para resumir, casualmente descobri que minha orquídea Schomburgkia crispa alba tem como origem a planta cuja história o Carlos Keller registrou.
Eu gosto de orquídeas e de histórias de orquídeas. Mas, sobretudo, gosto demais de orquídeas com história.
E essa minha planta tem uma história muito bonita. Assim sendo, mais uma razão para gostar e cuidar dela com muito carinho.
Orquidário Odara Orchids.
Cultive orquídeas e semeie amizades!
Grande abraço!
Que história! Realmente orquídea já é bom, e com história, melhor ainda!
É vero! Muito obrigado por comentar
Eu li , amei tudo!!! Bem , eu tenho essa orquídea, é a crispa!! Na verdade eu estava tentando descobrir o nome , pois esqueci e faz tempo deixei de ser orquidófilo, mas estou retornando…Bem,a minha orquídea é imensa, muito velha, ela nunca havia florido, mas fiz adubação e deu uma haste muito linda e grande .Bem , agora irei cuidar melhor dela e também vou fazer a divisão da muda.
Olá, sueli.
Que bom que gostou. Cuide dela com carinho, dando o que ela precisa, e será recompensada. Grande abraço!